Carrinho 0

Novidades Através|Editora

Facebook

Através Editora

Através Editora

2,669

Marca editorial da Associaçom Galega da Língua (AGAL)

This message is only visible to admins.
Problem displaying Facebook posts. Backup cache in use.
Click to show error
Error: The user must be an administrator, editor, or moderator of the page in order to impersonate it. If the page business requires Two Factor Authentication, the user also needs to enable Two Factor Authentication. Type: OAuthException

3 months ago

Recolhedoras de palavrasRocío saiu da casa, em Compostela, às 8.00h e entrou no velho Opel Corsa para ir à aventura, com roupa ligeira: umhas malhas, uns pisa-merdas, um casaco ligeiro de pele de anta. Sente que está um pouco fresco. “Malo será”. Também leva um acordeom na mala do carro. No dia anterior tivo umha intuiçom: há que levar um acordeom, polo sim, polo nom. Emprestou-lho um colega no último momento. Acompanham-a Xabier e Álex. Vamos ver o que encontram nesta viagem!Rocío, Álex e Xabier andam polos vinte anos. E som de um tipo mui especial de pessoas. Percorrem o país em busca de algo que nem podem imaginar. Cada fim de semana a força da tradiçom arrasta-os polos caminhos. Percorrem autoestradas, estradas, pistas, corredoiras. O que procuram nom se pode tocar com os dedos, é imaterial.O Opel Corsa está a dar as últimas e quando a estrada vira para cima, o carro nom consegue subir. Leva peso demais. Há que empurrar. Álex e Xabier descem do carro e tiram também o acordeom. Nesse dia tenhem que baixar e empurrar várias vezes.Atravessam o país em busca de sons. E esses sons podem ser mais valiosos do que o ouro. Durante toda a sua vida lembrarám as suas aventuras como umha verdadeira odisseia. Som buscadores de melodias, procuradores de cançons, aventureiros da tradiçom oral. Vam recolhendo, procurando mulheres e homens que cantem e dancem e deem a sua permissom para gravar tudo o que for possível.Há mais de cem anos, estas recolhas nom podiam ser gravadas e os sons que vibravam no ar transcreviam-se sobre papel. No século XX, a tecnologia permitiu gravar as cançons em magnetofones. Nos anos setenta, popularizárom-se os gravadores com fita de rádio-cassete, acessíveis para umha geraçom de recolhedoras e recolhedores que percorreu o país de cima a baixo. Há recolhedoras que chegárom a ter centenas de cassetes nas suas casas, milhares de horas. Hoje, as cançons e as danças registam-se em câmaras digitais e telemóveis.Graças às recolhedoras de palavras, hoje cantamos muitas das cançons que cantamos e ouvimos muitas das cançons que ouvimos. Dizia Bob Dylan que a sua obra nom seria a mesma sem as músicas de Robert Johnson que Alan Lomax gravou nos anos 30 do século passado, de quem também se confessárom devedores Elvis Presley, Johnny Cash ou Kurt Cobain. E Miles Davis nunca teria composto The Pan Pipe sem a gravaçom que o próprio Alan Lomax realizou do chifro dum afiador nos Peares. E sem as recolhas do cancioneiro tradicional de Marcial Valladares ou Dorothé Schubart, entre muita outra e a música galega moderna —do rock ao rap, passando polo trap ou polo pop— nom seria como é. A história da música contemporânea nom seria a mesma sem as recolhas da música tradicional. Por isso, estas palavras som umha homenagem às recolhedoras que, como Rocío, Álex e Xabier, percorrêrom a Galiza e o mundo na busca do património musical. À gente que recolheu e recolhe músicas, danças, contos, lendas e qualquer outra manifestaçom oral, a nossa admiraçom e reconhecimento. Especialmente à gente que compartilhou esse bem comum do povo. E também, com certeza, um agradecimento a todas as pessoas que, abrindo as suas casas e as suas vidas, cantárom e dançárom oferecendo generosamente a sua própria cultura ao povo galego e à humanidade.Fim do trajeto: destino! Quando Rocío desce do carro, a neve chega-lhe aos joelhos e enchoupa os pisa-merdas e as malhas. E começa a tiritar de frio. Ao lado da lareira, numha taberna, com um café com leite a aquecer as maos e o corpo, alguém diz a Rocio, Álex e Xabier que talvez tenham sorte: perto dali vive um homem que há anos tocava acordeom. Sim! À porta da sua casa, aquele homem baixote de dedos gordos ouve aquela gente nova e, com melan-colia, explica-lhes: Sim, eu antes tocava acordeom, mas tivem que vendê-lo há cinco anos. Rocío diz-lhe: Espere um pouco! E em trinta segundos volta com o acordeom a brilhar entre os flocos de neve, o homem começa a tocar e Rocío dá play ao gravador.Passou muito tempo desde aquela aventura. Rocío Candales há mais de vinte anos que nom sai como recolhedora. Na atualidade, é mestra e ativista cultural e tem duas filhas de 9 e 13 anos que estám a aprender a tocar gaita e sabem improvisar cantando em verso. Álex Ínsua é professor de pandeireta em várias associaçons culturais e continua a recolher, desde há mais de 30 anos. Xabier Díaz tem gravados vários discos e é um músico admirado na Galiza e em parte do estrangeiro. Rocío Candales começou a recolher por curiosidade, “porque depois de levar anos tocando gaita nunca parara para pensar de onde vinham as peças que tocava. Depois da primeira recolha, o contacto com aquela realidade desconhecida para mim foi como um jeito de atar-me à terra, umha maneira de acrescentar peças para conformar a evidência da pertença a um país. Lembro-me das borboletas no estômago, da humidade dos dias cinzentos na roupa, das madrugadelas recompensadas no momento dos primeiros contactos com as mulheres, na busca de algum vestígio de trasmissom. A adrenalina de compartilhar alegria no meio de um mundo a piques de desaparecer”.Quigemos falar com recolhedoras de palavras e músicas do século XXI. Blanca Villares recolhe desde mui nova. Filha de gaiteiro, aprendeu a cantar na casa, ouvindo as mulheres à mesa nos domingos e nos dias de festa, batendo na mesa com as maos e as colheres. “De mociña, con 13 ou 14, comecei a tocar nun colectivo cultural chamado Reviravolta. Quen sabía algo máis ensinaba ao resto, mais tiñamos apenas repertorio: Xabi e Lis, que eran dous compañeiros, subían moito á montaña nos fins de semana para bailar e tocar cos vellos das Nogais, Pedrafita... E eu fun con eles varias veces. Aprendemos pouco a pouco as cantigas e os xeitos que lles escoitabamos. Despois, cando fun coñecendo outras mozas doutras zonas que facían o mesmo que eu, fun ampliando repertorio, mais sempre á base de escoitar e tentar reproducir. Recollín porque gozaba moito con cada peza nova ou variación que aprendía.”Também Pepa Yáñez começou a recolher desde rapariga. Aprendeu cultura e tradiçom galega no coletivo María Castaña de Lugo. E explica que como parte daquela formaçom figurava sair para recolher: “Quem lá se formava ia recolher pola província na busca de um traje de cotio, um conto, umha cantiga, umha técnica...”Blanca Villares conta-nos umha história bem curiosa: “En Taramundi hai moitos anos que participo dun encontro cos tocadores da montaña. Polo San Martiño organízase unha castañada e xuntabamos gaiteiros vellos da Fonsagrada, Ribeira de Piquín, Boal, Bres..., da zona asturiana e galega. Unha desas noites cantei cun gaiteiro, o Praviano, que lle daba moito xeito e cadrabamos moi ben. O caso é que levaba un bon pedazo tocando con el e díxome: -Carai, que ben lle dás! Heiche tocar unha bonita bonita pra cantar, das de antes. Eu emocioneime toda e cando arrincou a tocar.... A canción era María Isabel de Los Payos! Tenme pasado isto mesmo mil veces, con diferentes informantes, e con mil cancións: Mi carro do Manolo Escobar, Clavelitos, a Conga... Agora doulle outro sentido ás recollidas, claro. Temos por un lado esa obse-sión de que non se perda nada do que había, de xuntar e compoñer as pezas do crebacabeças para comprender de onde vén a nosa música, qué foi primeiro... e esa obsesión por depurar as esencias. Mais para min tan importante como iso é darlle valor a esas prácticas en si mesmo: xuntarse para cantar e contar e bailar, cantar traballando, aprender das escoitas, o respecto interxeracional, resolver conflitos tamén. Leva moitos valores asociados ademais do propio valor etnográfico-musical. Por iso é que vivo na montaña e sigo aprendendo das persoas que a habitan. E por iso é que as miñas aulas sempre aspiran a deixar de ser “aulas”, e busco que a xente normalice o de cantar fóra delas e facer comunidade. A improvisación sempre está presente! Ás veces máis acotada a contextos como o entroido. Mais dalgún xeito sempre presente. Igual non tan espontánea e longa como o brindo, por exemplo, pero improvisábanse coplas seguido: para picar á compañeira, comentar a vestimenta, comentar as parellas do baile, o moito que bebe este ou aquel... E rirse da tola que vén gravalo todo! Encántame esa función social da música, penso que tiña todo o sentido e é unha pena que non soubesemos adaptala para que seguise evolucionando co resto da música. Por iso hai que facer traballo de recuperación, posta en valor e sobre todo, actualización aos novos contextos. Deberíamos estar tod@s facendo TikTok co brindo!”.Pepa Yáñez conta-nos: “Lembro-me de umha improvisaçom de um informante de meia idade no Hospital do Cebreiro. Numha celebraçom para a recuperaçom dos cantos de reis, meio que improvisou umha copla, porque tinham previsto ir ao Luar. Cantou lá, dias antes de ir ao programa:“A minha filha dote nom temmas canta e baila bem,sabe coser e sabe bordar,quero que seja a melhor do Luar.”Trocou lugar por Luar. E eu fiquei com essa ideia de trocar palavras para fazer humor.”Marta Otero fai parte da última geraçom de recolhedoras e explica-nos: “Eu recolho porque quero arrecadar informaçom sobre a tradiçom do meu povo, empapar-me da sua cultura, da sua dança, dos seus contos... Recolho para mim, para saber mais e seguir com a cadeia de transmissom. Recolher é umha maneira de achegar-me às danças, aos cantos, aos contos e aos jeitos de vida que tinham as minhas antepassadas. Eu sempre pensei que há que conhecer bem o que umha pessoa tem de seu, para conformar a identidade própria e depois se abrir a novas culturas. Nas recolhas, a improvisaçom está presente em cada palavra, em cada canto, em cada conto, em cada ponto de dança... A improvisaçom é parte fundamental para entender as nossas danças e as nossas melodias. E nas foliadas, ao final da festa, sempre chega o momento da regueifa. Na nossa malta de Botos, onde nos juntamos pessoas de diferentes geraçons, é típico apanhar a cançom que melhor sabemos e improvisar a letra à mesa. Para mim a regueifa anuncia o fim de festa mas também é o momento mais intenso da noite.”Este é um capítulo do livro "O povo improvisador. Aventuras sobre regueifa e poesia oral. " de Através Editora . 2022.Graças a Xabier Diaz , Blanca Villares , Álex Insua, Rocio Candales, Marta Otero, Unha Da Revolta, Pepa Yáñez. ... See MoreSee Less
View on Facebook

3 months ago

Hoje!📚Lembrem que no próximo dia 12 na livraria Berbiriana será apresentada a última novidade editorial "Para vós, jogadores" de Javier Vásquez Costa. O lançamento contará com a presença de Teresa Moure.Não percam! ... See MoreSee Less
View on Facebook

4 months ago

Na próxima quinta-feira na EOI Vilagarcía.Não percam! ... See MoreSee Less
View on Facebook