Em 25 de março de 1990 faleceu na capital da Galiza Ricardo Carvalho Calero, esse gigante da nossa cultura que foi memória do passado século e do País que nos enforma. Carvalho Calero, Membro de Honra da Associaçom Galega da Língua (AGAL), foi o teorizador indiscutível do reintegracionismo, assim como o seu máximo divulgador e praticante. Através de precisos ensaios como os de Problemas da língua galega (Lisboa: Sá da Costa, 1981), Da fala e da escrita (1983), Letras galegas (Agal, 1984), ou Do galego e da Galiza (1990, póstumo), entre outros; por meio de soberbas aplicaçons literárias, como Cantigas de amigo e outros poemas (1986), ou o reconhecido Scórpio (1987), ou Reticências (1990, póstumo), por nom falar de artigos de revista, colaboraçons jornalísticas, conferências, entrevistas, discursos…
Com a pena e com a palavra, Dom Ricardo provou sobejamente que a proposta reintegracionista nom só fora preponderante na tradiçom galeguista, como era, continuava a ser, a única garantia séria e coerente de futuro para a nossa língua. A inexorável lei biológica levou o Mestre para o Além, mas o reintegracionismo, por mais que muito lhe deva, permaneceu. E permanecerá, por mil primaveras mais, enquanto houver galegos bons e generosos, mas sobretudo enquanto houver galego.
Umha dúzia de testemunhos de outros tantos autores, nesta primeira série, mostram que o discurso reintegracionista continua activo na nossa sociedade, e que se nom alcança talvez a magnitude do caudal carvalhiano das proximidades da desembocadura, sim se espalha por inúmeras vias fluviais, ora com a energia promissora da jovem torrente, ora com a a segurança que dá a serena fluência dos cursos medianos. Umha dúzia de textos a incidir na indispensabilidade de umha visom alargada da nossa língua, que extravase as fronteiras quadriprovinciais e estatais, para podermos, na solidariedade salvadora com os nossos parceiros, cultivar a nossa própria diferença.
A língua de aquém e de além. De aquém-Minho e de além-Minho, de aquém-mar e de além-mar. Umha língua nascida num recanto do noroeste hispánico, nos confins desta velha Gallaecia, que, após umha fantástica viagem de vários séculos, orientando-se sempre para sul, tornou-se hoje umha língua universal. A única língua que, junto com o inglês, se fala em todos os continentes, como língua oficial ou cooficial: Europa (Galiza e Portugal), América (Brasil), África (Angola, Moçambique e restantes PALOP), Ásia (Macau), Oceánia (Timor-Leste). Nom hipotequemos, por falta de generosidade ou de perspectiva, o seu futuro, porque é para já hipotecarmos o nosso próprio presente.
Com o lançamento deste livro, disposto em duas partes consoante a natureza dos trabalhos nele (re)editados, a Comissom Lingüística da AGAL considera ultrapassada a travessia polo deserto e retorna à arena da reflexom e debate públicos sobre o idioma de todos. Neste novo percurso nada subordinará, como sempre, a sua libérrima voz colectiva, por mais que sempre atenta e respeitosa para com todos os pontos de vista igualmente atentos e respeitosos. A bem da língua!