O presente trabalho tem uma clara vocação pedagógica, a caminho entre o trabalho académico e de divulgação. O nosso objetivo é estabelecer um quadro cronológico que proporcione uma perspetiva global, dum movimento com poucos trabalhos de carácter historiográfico.
Porém, antes de começar, cumpre fazer-nos a seguinte pergunta: Que entendemos hoje em dia por Reintegracionismo? O dicionário Estraviz definiu-o assim “corrente filológica que defende que galego e português são duas variantes de um mesmo idioma e que, portanto, se devem escrever igual”. Mas como veremos nas páginas a seguir, com o passar do tempo o reintegracionismo abrangeu diferentes ideologias e sectores sociais.
Assim, como qualquer movimento social ou político, os partidários da reintegração linguística elaboraram um discurso onde assentaram a sua legitimidade. Os seus defensores puseram em destaque como a unidade linguística entre o galego e português foi reconhecida tradicionalmente por toda a romanística. Como isto não fora objeto de discussão antes da década de setenta, e como a partir de então houve continuados desencontros entre os diferentes agentes do galeguismo.
Escrever portanto uma Breve História do Reintegracionismo é fazê–lo também da própria história da língua galega até 1982, ano em que se aprova uma norma ortográfica de carácter divergente com o padrão português. Porém, embora o reintegracionismo seja uma corrente filológica, a preocupação pela questão linguística foi paralela à evolução do galeguismo político ou cultural. Por este motivo decidimos seguir a estrutura que a historiografia tem proposto para as diferentes etapas evolutivas do nacionalismo galego. Deste modo resolvemos dividir o presente trabalho em dois grandes blocos, com 1936 como ponto de inflexão. O primeiro capítulo começa com a Ilustração (séc. XVIII), momento em que surgiram as primeiras elaborações teóricas na defesa da língua galega. Foi neste período quando a preocupação com o idioma adquiriu uma maior intensidade, embora já existissem ecos da unidade linguística com anterioridade. No segundo capítulo abordaremos os inícios da codificação do galego, processo que na Galiza esteve inserido dentro do movimento provincialista e o ressurgimento (1840-1885). No entanto, foi na etapa regionalista, que abordamos no capítulo terceiro, quando se produziu um salto qualitativo, nomeadamente através dos representantes da Escola Corunhesa (Cova Céltica e a Liga Gallega). Estudaremos por isso o discurso de língua dos seus agentes, bem como as diferentes polémicas normativas nas revistas literárias.
A partir de 1916, com o nascimento do nacionalismo, a reivindicação da unidade linguística passou a ocupar uma posição central. Seguiremos a dinâmica política do galeguismo até 1936, ao qual dedicamos o capítulo quarto, focando a nossa atenção nos diferentes debates ortográficos em A Nosa Terra, a Revista Nós ou El Pueblo Gallego. Analisaremos também à elaboração teórica de destacados vultos do galeguismo como Vicente Risco, Correa Calderón ou Villar Ponte, finalizando com uma referência obrigada à importância de Portugal no processo de codificação normativa.
Finalizada a Guerra Civil, a urgência da reconstrução do galeguismo na clandestinidade relegou as brigas ortográficas para um segundo plano. No entanto, o discurso da unidade linguística continuou como veremos no Castelao do Sempre em Galiza (capítulo I), na produção de Ernesto Guerra Cal, ou no desenvolvimento teórico de Valentín Paz Andrade (capítulo II). Ora, foi na década de setenta que começaram a fixar-se os alicerces do reintegracionismo moderno (capítulo III). Nasciam formalmente duas tendências presentes desde o século XVIII. Explicaremos as suas dinâmicas de confronto (Piñeiro vs Lapa) a aprovação da norma ILG-RAG, o nascimento da AGAL (capítulo IV) e a configuração, na década de noventa, dum transversal e heterogéneo movimento social (capítulo V). Finalmente, e apesar da proximidade histórica, decidimos dar ponto e final ao nosso estudo analisando a mudança de paradigma desenvolvida dentro do reintegracionismo a partir da década de 2000 (capítulo VI).