Carlos Taibo: “A língua é a mais excelsa das criações do ser humano” 30 Março, 2022 – Publicado em: Através das Ideias, Entrevistas
O Carlos Taibo é alto, usa óculos e gosta de brincadeiras. No seu rosto sem barbear campa um sorriso que transmite aconchego e singeleza. Nom o larga em toda a conversa e fai-me lembrar o humorismo de Castelao, um ar lírico misturado com a vida aceda de quem sonha com um mundo mais justo, mais igualitário, mais humano.
Nom é muito comum fazer autobiografias com focagens tam específicas, como surgiu a ideia de escreveres sobre a tua relaçom com as línguas ao longo da vida?
Há um tempo que me decatei de que boa parte das histórias e das brincadeiras que conto têm uma base claramente linguística. Em realidade não proponho nessas páginas, em termos estritos, uma autobiografia que, como tal, teria um interesse reduzido. O livro é de facto um pretexto para recuperar essas histórias e brincadeiras. Na tarefa ajudou-me um corunhês um bocadinho louco que ministra aulas de galego em Madrid e que sonha com línguas e com anões de Minas Gerais.
O Feitiço das línguas já encanta o leitor desde o próprio título. Som isso para ti as línguas, um feitiço?
São, certamente. E são também um presente que nos ofertou a natureza. Não consigo compreender aqueles que celebram, em virtude das teóricas melhoras que haveriam de produzir-se na comunicação, a desaparição de línguas. Além disso, no prólogo do livro saliento que para mim a língua é a mais excelsa das criações do ser humano, noutros âmbitos tão pouco feliz.
Não consigo compreender aqueles que celebram, em virtude das teóricas melhoras que haveriam de produzir-se na comunicação, a desaparição de línguas.
Seguindo com o título, escolheche um subtítulo curioso, “uma (pseudo) (auto) biografia linguística”. Que de “pseudo” há nela?
Já disse que o meu objetivo não era, ou não era fundamentalmente, retratar-me. Agrego agora que o livro carreta uma vantagem nada desprezível: reduz sensivelmente as possibilidades de eu sentir a tentação de enfrentar uma autobiografia canónica, em visível proveito da humanidade e da sua causa.
No mundo há mais de 6000 línguas. Com quais vai dar o público leitor ao debruçar sobre esta obra?
Vai dar, nomeadamente, com o galego-português e com o espanhol. Mas também com outras línguas que até agora me acompanharam, com noivados mais ou menos longos: o francês, o italiano, o alemão, o grego, o árabe, o catalão e… o russo. Mas também há observações nessas páginas sobre o africânder, o maltês ou o fan. Para parecer culto e exótico.
Algo realmente admirável é a capacidade do autor para lidar com a diversidade linguística. Ser poliglota fai parte do teu charme?
Não quero enganar ninguém. Os meus conhecimentos em matéria de línguas são muito limitados. E falando a sério não sou um poliglota. Sou uma pessoa curiosa que procurou se embebedar ao abrigo das línguas, com razoável sucesso. Como é sabido, e além disso, o meu charme tem um caráter exclusivamente sexual.
Tens mais de meio cento de livros publicados. Já estás a pensar em qual vai ser o próximo?
Trabalho num livrinho, que vai ser muito ameno, sobre ecofascismo. E, para castigar os olhos dos amigos e amigas da Através, há tempo que acumulo materiais para escrever uma opera-prima sobre uma cidade do norte de Portugal na que desagua o Douro. Mais esse texto magnífico ainda há de demorar.
Entrevista por Diego Bernal no PGL.